A história da culinária da Bahia
A Bahia foi o primeiro local da América onde chegaram as caravanas portuguesas na época das Grandes Navegações. Em meio a tanta história, história essa que envolve diferentes povos e culturas, foi surgindo uma culinária bem característica na Bahia.
A culinária baiana é muito marcada por frutos do mar, azeite de dendê e leite de coco, ingredientes facilmente obtidos em seus cais, embora não se limite apenas a eles. Também é uma culinária que permeia, e é muito permeada, por costumes e tradições populares e religiosas.
A seguir, organizamos uma lista de pratos e bebidas típicas da Bahia para apresentar a você um pouco dessa parte saborosa de uma história tão rica.
As comidas típicas da Bahia
Um bom jeito de conhecer a cultura de um determinado local é a partir de sua culinária. A seguir, confira alguns dos principais pratos típicos do estado da Bahia e um pouco de sua história.
■Acarajé
O acarajé é uma das comidas de rua mais populares na capital baiana. Ele é composto por feijão fradinho amassado e temperado com cebola e sal. Em seguida, é mergulhado em azeite de dendê quente para fritar.
Depois de frito, o acarajé é recheado. As opções de recheio são o vatapá, que é feito de leite de coco, castanha de caju, amendoim e camarão; o caruru, que é um cozido de quiabos; o vinagrete; o camarão seco; e, é claro, a pimenta.
O nome “acarajé” vem do iorubá: é a junção de “akará”, que significa “bola de fogo”, e “jé”, que significa “comer”. Na tradição religiosa do candomblé, ele é ofertado à orixá Iansã, e há histórias tradicionais que relacionam o acarajé a Xangô e Iansã.
O Ofício das Baianas de Acarajé é, hoje, reconhecido como Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Todo o processo ritualístico está envolvido no Ofício, desde as tradicionais vestes brancas ao preparo do alimento.
■Moqueca baiana
A moqueca baiana é um dos pratos mais famosos da Bahia. Tradicionalmente, ela é feita da seguinte maneira: depois de preparar os frutos do mar e picar a cebola, o alho, o tomate e os pimentões, os vegetais são refogados no azeite. Em seguida, acrescenta-se o leite de coco, aguardando a sua fervura, e o azeite de dendê.
Depois, são adicionados os frutos do mar, que podem ser dos mais variados: peixe branco, peixe vermelho, camarão, lula, polvo… O ingrediente escolhido dará nome ao prato (por exemplo, “moqueca de camarão” ou “moqueca de polvo”). Então, depois de os frutos do mar estarem cozidos, adiciona-se à panela o cheiro verde, e também deve ser feita a retificação do sal.
Embora não haja muitas variações no modo de preparo da moqueca baiana, existem algumas variações no ingrediente principal. Uma variação muito comum é a moqueca de ovo, trazendo uma versão vegetariana à iguaria baiana. Também existe a moqueca de banana-da-terra que, por sua vez, é uma opção vegana. A depender da criatividade do cozinheiro, outras versões da moqueca podem surgir.
Os acompanhamentos mais comuns da moqueca são o arroz branco, a farofa de dendê e o pirão. Também é muito comum adicionar pimenta ao prato.
■Vatapá
O vatapá é outra comida muito popular na culinária baiana. De maneira geral, pode ser servido com arroz ou pode funcionar como um acompanhamento a pratos principais, ou como recheio do acarajé e do abará. Ele é um alimento pastoso e muito rico em sabor.
Os ingredientes que podem ser encontrados no vatapá são: pão amanhecido ou farinha de rosca, água, leite de coco, amendoim, castanha-de-caju, gengibre, camarão seco e azeite de dendê. Há outras versões do prato, como a vegana, à qual não é adicionado o camarão seco.
■Bobó de camarão
Um outro prato icônico da culinária baiana é o bobó de camarão. Essa iguaria é feita com uma pasta preparada a partir de uma mistura do leite de coco com a mandioca e o azeite de dendê. Depois, é adicionada a essa pasta o camarão.
Geralmente, esse prato é servido com arroz branco e com farofa. O bobó de camarão é uma receita bem similar ao tradicional ipetê da África ocidental.
■Tapioca
O prato tapioca, também conhecido como beiju em algumas partes do estado baiano, é preparado a partir da matéria-prima tapioca, ou goma, que é a fécula da mandioca. O seu preparo é simples: basta dispor a goma em uma frigideira, sem untar, ligar o fogo e esperar que os granulados da goma se unam, formando um disco branco.
A esse disco podem ser adicionados recheios dos mais variados: manteiga, carne-seca, queijo coalho, frango, presunto, enfim, o que a criatividade do cozinheiro permitir.
Também há a versão doce da tapioca. A massa é preparada da mesma maneira que a salgada, e a diferença está no recheio, que também pode variar bastante. Alguns recheios populares são banana, doce de leite, coco e leite condensado, mas não se limitando a esses sabores.
■Xinxim de galinha
O xinxim de galinha é mais um prato típico da Bahia e, como tantos outros, tem suas origens relacionadas à cultura africana. O prato é feito com frango, amendoim, castanha de caju, gengibre, azeite de dendê, camarão e leite de coco, além dos temperos, como coentro e pimenta.
É um prato ensopado, de aparência amarelada por conta do azeite. Tradicionalmente, é servido com arroz branco e farofa de dendê.
■Mungunzá
O mungunzá é uma comida típica do período de São João na Bahia e em outros estados brasileiros.
Nas regiões sul e sudeste do país, bem como no Distrito Federal, o prato é conhecido como “canjica”, mas atenção: na Bahia, assim como nas demais localidades do Brasil, o mungunzá é aquela iguaria de cor esbranquiçada, de consistência mais cremosa e com os grãos do milho perceptíveis. Já a canjica é o que, no Sul e no Sudeste, é conhecido como “curau”.
Sendo assim, o mungunzá se trata de um doce de consistência cremosa, frequentemente feito a partir do milho branco cozido no leite de coco. Ele é adoçado com açúcar e comumente servido com canela em pó. Também não é raro servir o mungunzá com leite condensado ou cravos.
■Arroz de hauçá
O arroz de hauçá é um arroz preparado sem sal e bastante cozido, de modo a quase formar uma pasta. Ele recebe esse nome porque foi trazido da África pelos hauçás. Esse arroz é comida ritual desse povo, sendo ofertado aos orixás. Quando preparado com fins de oferenda, o arroz não é temperado.
Na culinária, por sua vez, o arroz de hauçá é constantemente consumido com pimenta, cebola, camarão e carne-seca. Também pode ser servido somente com a carne-seca.
■Rabada
A rabada é um guisado feito a partir do rabo do boi. Ao cozido, geralmente são adicionados legumes e verduras, tais como pimentão, tomate e cebola, além dos temperos. Esse prato é comumente servido com uma fonte de carboidratos, como o arroz, a polenta ou batatas.
Ao redor do mundo, outras culinárias possuem pratos parecidos. Em Portugal, por exemplo, pode ser encontrada a “sopa de rabo de boi”. Já na Inglaterra, é possível encontrar a “oxtail soup”.
■Cocada
No tabuleiro da baiana, além dos tradicionais acarajés, abará e bolinho de estudante, também é possível encontrar uma outra sobremesa tradicional: a cocada. Seu preparo é bem simples: basicamente, é uma mistura de coco ralado com leite condensado e açúcar. Também é possível encontrar sua versão que contém amendoim.
A partir da mistura dos ingredientes, são moldados discos que, depois de secos, são embalados e estão prontos para serem comercializados.
■Caruru
O caruru é um outro prato muito tradicional da culinária baiana. Esse prato é um cozido feito de quiabos e não há somente uma maneira de consumi-lo.
Uma das maneiras de consumir o caruru é como o recheio do acarajé ou do abará. Por isso, esse cozido de quiabos faz parte do tabuleiro da baiana de acarajé, e, geralmente, é combinado com vatapá, camarão seco, vinagrete e pimenta para acarajés ou abarás completos.
Uma festa religiosa muito popular na Bahia é a celebração do dia de São Cosme e Damião, protetores das crianças, pelos católicos, em 26 de setembro.
Já na Umbanda e no Candomblé, o mês de setembro é associado aos erês, que representam os espíritos das crianças que foram escravizadas. Essa associação é decorrência da celebração dos santos católicos.
Por isso, o mês de setembro é, na Bahia, o mês do Caruru de sete meninos: se trata de uma celebração na qual são preparadas refeições cujo prato principal é justamente o caruru. Seus acompanhamentos envolvem feijão fradinho, pipoca, farofa de dendê, rapadura, banana-da-terra e frango cozido, e também são distribuídos doces.
■Abará
O abará é uma outra especialidade das baianas de acarajé -- inclusive, seu preparo é bem parecido com o do acarajé. Essencialmente, ambos são bolinhos de feijão fradinho. No entanto, enquanto o acarajé é frito no óleo de dendê, a massa do abará é envolta em folha de bananeira e cozido no vapor em banho-maria.
Uma outra diferença entre esses alimentos é que, no caso do abará, são adicionados à massa pedaços de camarão seco.
Já quando o abará é preparado para fins ritualísticos, tradicionalmente no candomblé, é adicionado pó de camarão em lugar dos pedaços do animal.
Assim como o acarajé, o abará, ao ser vendido como alimento, pode ser recheado com vatapá, caruru, pimenta, vinagrete e camarões secos.
■Efó
O efó é uma outra comida que também pode ser utilizada para fins ritualísticos. Esse alimento é preparado com folhas de língua-de-vaca, amendoim torrado, castanhas-de-caju, camarões secos, cebola, água, leite de coco e azeite de dendê.
A partir dos ingredientes, é obtida uma pasta homogênea que é servida com acompanhamentos, como arroz e peixe. Além da língua-de-vaca, podem ser usados outros vegetais, como folhas de taioba, de espinafre ou de mostarda. Quando utilizado para rituais, esse alimento é oferecido à Nanã no candomblé.
Bebidas tradicionais da Bahia
Além das comidas típicas da Bahia, algumas bebidas também merecem destaque. A seguir, confira algumas delas.
■Suco de cacau
Embora o cacau seja muito mais conhecido como a matéria-prima do chocolate, essa fruta também pode ser utilizada para outras finalidades, como para a confecção do suco de cacau.
Não é de hoje que a região sul da Bahia é reconhecida como grande produtora de cacau. A Costa do Cacau, como é conhecida essa região, é composta pelas cidades de Ilhéus, Itacaré, Una e Canavieiras, e conta com uma natureza exuberante: de praias a cachoeiras, é difícil não ficar encantado com as paisagens locais.
Assim, os turistas que se aventuram pela Costa do Cacau também têm a oportunidade de conhecer os diversos usos dessa fruta.
O suco do cacau é feito a partir da retirada da polpa da fruta e, comumente, adiciona-se água para deixar a consistência do suco um pouco mais líquida. Alguns dos benefícios dessa iguaria são o seu efeito antioxidante, o controle do colesterol e a prevenção de diabetes e de doenças relacionadas ao coração.
■Aluá
O aluá tem origem afroindígena e possui algumas variações nos ingredientes e preparos ao redor do Brasil. No entanto, sempre se trata de uma bebida fermentada a partir de grãos de cereais, como milho e arroz, moídos; em seguida, são adicionadas especiarias. Segundo a tradição, é preparada em potes de cerâmica.
Em algumas localidades, pode ser usado o abacaxi no preparo do aluá. Algumas especiarias utilizadas para a confecção da bebida são o gengibre, o açúcar e o cravo, a depender da região.
■Licor de jenipapo
O licor de jenipapo é característico das celebrações de dia de São João na Bahia. Nas noites frias de inverno, os licores dos mais variados sabores caem bem para dar uma esquentada no corpo.
O jenipapo é nativo das regiões sul e central da América e pode garantir muitos benefícios para a saúde. Ele é rico em vitaminas e minerais e o seu xarope é muito indicado para quem tem problemas respiratórios, como bronquite e asma.
Além dos benefícios para a saúde, o jenipapo também é considerado afrodisíaco pela crença popular.
■Guaraná axé
O guaraná axé é uma bebida não-alcoólica originária da região de Porto Seguro, na Bahia. Esse guaraná é feito a partir de uma mistura de refrigerante de guaraná com pó de guaraná, leite condensado, limão e gelo.
Só de ler os ingredientes já dá para perceber que se trata de uma excelente opção para aqueles que buscam se refrescar no calor.
■Cachaça
A Bahia foi uma das grandes pioneiras da cachaça, uma bebida originada a partir da destilação da cana-de-açúcar em engenhos baianos para o consumo dos escravos africanos. Apesar do seu teor alcoólico ser considerado muito alto, entre 38% a 48%, a cachaça possui um cheiro adocicado e agradável, que remetem à madeira, vegetais e frutas.
Outro ponto curioso da bebida é que apesar do seu consumo excessivo ser prejudicial à saúde, na época do Brasil colônia, era também utilizada como medicamento. Isso se dá pela sua composição ser rica em antioxidantes que protegem o coração, além de combaterem o colesterol alto. Fora isso, a cachaça pode funcionar também como anticoagulantes, substâncias que melhoram a circulação sanguínea e previnem o AVC e a trombose.
Diversas cachaças baianas já foram premiadas em concursos nacionais e internacionais. Uma delas é a Matriarca, fabricada no Extremo Sul da Bahia. Não deixe de experimentar esta bebida típica.
Não deixe de experimentar as comidas típicas da Bahia!
A Bahia tem uma história muito rica em sua culinária, muitas vezes, atrelada a costumes, e reflete isso. Você pode experimentar as comidas típicas da Bahia fora do estado, já que a culinária nordestina está presente por todo o país. No entanto, os turistas afirmam que não há comparação em experimentar os quitutes baianos à beira-mar, sentindo a brisa fresca salina e aproveitando a vista das praias baianas.
Agora que você já conhece alguns dos pratos e bebidas típicos do estado, já está pronto para se aventurar na culinária baiana e desfrutar de seus sabores especiais.
Sou estudante de Letras e amo caminhar ao ar livre e cultivar plantinhas.